Estreou recentemente na Max (antiga HBO) uma série, não inglesa, inspirada no famoso livro da escritora Laura Esquivel, “Como Água para Chocolate”.
Li o livro há muitos anos e ficou-me na memória. A história gira à volta da culinária e cozinha de uma família mexicana, a das mulheres De La Garza. Cada capítulo apresenta-nos uma receita, que dá o mote e ajuda a contar a narrativa. É sobretudo uma história de amor, contada também através da magia que acontece através da comida.
Detalhe que considero relevante: estar falada em espanhol, só a torna mais genuína.
Transportar o universo literário para a televisão é acrescentar uma dimensão visual ao já só por si, imaginário rico da gastronomia. Já foi adaptado ao cinema, pedia uma boa adaptação à TV, para nos fazer sonhar e envolver na dimensão mágica tão comum da literatura sul americana. Afinal aquilo que comemos pode estar muito mais ligado do que pensamos às nossas emoções.
O nosso olfato e paladar têm uma ligação profunda com as nossas memórias e o ato de comer, além de ser uma necessidade básica de sobrevivência, é um ato que pode ter um enorme reflexo naquilo que é nosso bem-estar, felicidade e até personalidade:
o cheiro do café pela manhã
o sabor do bolo que só a nossa avó parecia saber fazer
a comida da nossa Mãe que é sempre a melhor do mundo
aquela guloseima que comíamos quando éramos crianças e que é o retrato da nossa infância
o vinho que bebemos no primeiro encontro com a nossa cara-metade.
No caso particular da identidade portuguesa, a comida faz tanto parte de nós, que nos reconhecemos facilmente no sentimento de “já tenho saudades da comida portuguesa”. Sejamos emigrantes ou turistas por uns dias. A nossa vida pode girar tanto à volta de uma Mesa, que é muito simples deixar-nos levar pela história da série e permitir que a nossa Gula se eleve.
Por fim, ao escrever este texto, dou-me conta que talvez tenha acabado de descrever, de certa forma, uma das razões de ser deste “Com Vagar”.
Tudo o que se pode fazer à volta de uma Mesa (seja ela de que tipo for) e porque estar à volta da mesa nos obriga a ter tempo, a parar, a desfrutar.
Uma mesa pode ser essencial à nossa vida.